Quantas vezes você acredita ter ou possuir aquilo que jamais foi dono? Quantas vezes você se engana e pensa que possui um lugar importante na vida do outro, quando na verdade está a substituir alguém ou retirar um pouco do tédio? A sensação de descobrir pouco a pouco que a construção de um sentimento (seja ele qual for) não passou de uma ilusão dói muito mais do que se entregar à certeza dele e mais tarde se decepcionar. Pois quando no segundo caso, você pelo menos viveu aquilo e foi verdade enquanto existiu. Sempre pensei que as pessoas (pelo menos as que estiveram sempre comigo durante muito tempo) pudessem ser sinceras e fossem capazes de olhar no meu olho para falar a verdade. Que ilusão tola!
Mas agora, recolho-me para dentro de mim. Já limpei toda a bagunça que esses anos cheios de ilusões me trouxeram. E estou pronta pra recomeçar. Não é um ressurgir das cinzas, porque para existir cinzas supõe-se fogo e ao contrário disso; o que pude provar esse tempo todo foi unicamente gelo. Mas está tudo bem agora. Ou pelo menos creio que esteja. Se amanhã eu vier a lamentar, que isso faça parte de um processo de limpeza e restauração. É como quando necessitamos limpar a casa, mas para isso precisamos jogar fora papéis velhos, revistas passadas, livros rabiscados e canetas que falham. E ainda assim sentimos nostalgia ou quem sabe medo de desprender do que fomos por tanto tempo conseguinte. Perder certezas é realmente algo doloroso.
Pouco a pouco eu irei refazer a casa. Pouco a pouco eu colocarei coisas novas e quem sabe até esperanças. Por agora eu só tenho uma convicção: não preciso e nem quero voltar atrás. Quero ir em frente e não posso desistir dessa mudança. E veja só como estou decidida e pronta para não pestanejar. Veja só como por tanto tempo só precisei desta coragem. E ela sempre esteve aqui, mas só agora pude vê-la. Vou usá-la finalmente!