Hoje chorei lendo um poema de Clarice. Parecia que não era eu porque já o tinha lido tanto, mas nunca sentido algo parecido com o que senti. Devo ter encontrado a alma do poema. Mais do que isso, me encontrei nele. Ando tão sentimental, precisando de tanto afeto, tanto amor, e tanto carinho que ontem ao abraçar minha mãe senti uma paz que nunca tinha sentido. Talvez eu não tenha notado, mas a minha paz está bem do lado, na terceira porta deste corredor onde está meu quarto. Demorei tanto tempo pra encontrar razões e quando as achei elas se tornaram vãs. Sempre quis decretar finais dentro de mim, e quando finalmente declaro o primeiro final, sinto-me precisando de um novo inicio. Será que aprendi a me aceitar como sou? Ou vivo tentando desenhar alguém que todos querem ter?
Minha mãe de certo me aceita como sou. Ela me conhece tanto que percebe quando vou deixando de ser ou apenas começando a ser o que sempre fui. Sabe o que mais gosto de comer, minha cor preferida, meu modo de vestir, meu numero de sapato, meu grau de óculos. Ela sabe até como vai o meu nível de açúcar no sangue ou meu colesterol. Sinto isso quando ela pede pra que eu diminua os doces, ou coma menos gordura.
É um peso enorme saber que temos quem mais amamos finalmente. Dói imaginar o quanto tempo perdemos para descobrir isso. E eu desejo fielmente, que isso não aconteça com você.
Poderia ser pior se caso eu só tivesse descoberto isso depois que ela tivesse ido. Oh Deus, obrigada por essa conscientização. Não pense que fui uma filha péssima, que nunca fiz nada de bom para minha mãe. Pelo contrário, acho que fui uma filha razoável. OU medíocre, tanto faz. Não sei como definir a linha de quem sempre teve tudo o que quis, mas só com a maturidade entendeu o que realmente precisava.
E eu preciso dela. Preciso imensamente do abraço dela. Um abraço com um poder de cura. Um abraço que de tão enorme, cabe meus defeitos e qualidades. Cabe o meu pior se confundindo com o meu melhor, porque mãe nos vê com olhos mais santos. Olhos que não enxergam defeitos. Porque mãe é mãe. Preciso dizer algo além desta imensa palavra de três letras? MÃE. Soa como uma canção leve. Soa como compreensão. Soa como refúgio. E finalmente soa como o amor.
Ainda bem que Deus nos confiou à essa guardiã. Ainda bem que por um bom tempo não precisamos nos preocupar com roupa lavada, comida feita, água e luz pagas, par de meia dentro do tênis, o ponto certo do açúcar no café, o tempo do bolo no forno. Porque mãe sabe isso de cor. Mãe sabe tudo. E sabe até quando não sabe, porque pressente. Esse amor que ela tem dentro do peito a coloca em sintonia profunda com Deus.
É uma pena não ser eterna. É uma grande pena. Aliás, é uma tragédia. Mas desejo que eu possa amá-la a cada dia. Desejo entender seu papel de protetora quando abre meu guarda roupa, quando lê minhas correspondências, quando liga pro colégio, quando me acorda pro almoço em pleno domingo. Desejo um dia também sentir esse amor por alguém. Desejo ser santa assim como uma mãe. Desejo que a minha esteja comigo todos os dias. Desejo encontra-la até quando eu não puder mais vê-la. Para você mãe, todo o meu amor. Obrigada por ter me tornado o que sou. Obrigada por entender meu grito de agonia dentro do silêncio do meu olhar. Amo-te.
21/03/2012
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