Daqueles dias
em que o silêncio é a nossa melhor companhia. Daqueles dias em que você quer
que todo o resto se exploda. Daqueles dias em que se olha pros lados e não se vê
nada além de paredes brancas e móveis envelhecidos. Eu sento na minha cama,
escuto o pulsar do coração e sinto como se fosse o algo mais verdadeiro do
mundo. É a minha certeza; é o meu órgão vital bombeando vida para cada célula e
eu não tenho mais nada que isso.
O sol que já
nasceu anuncia um novo dia, mas dentro de mim o principio vital é outro. Nada
nasceu. É apenas a continuação da mudança. E continuamente as coisas mudam. Pessoas
entram e saem de nossas vidas a todo o momento, e vejo isso como uma
necessidade que temos de desapegar do velho e nos agarrar ao novo.
E é sem
nostalgia que vejo esse sol. Ao contrário de nostalgia, o que sinto é o sangue
correr mais forte. É o coração acelerado. É o ritmo da mudança debaixo da minha
pele e em cada veia. Há o medo das más mudanças, mas há o entusiasmo de
vivê-las profundamente e a todo vapor. Porque todos os dias a vida começa bem
aqui dentro e cabe a eu decidir o que será feito dela. Se eu fico, permaneço,
vou, corro, tenho pressa ou simplesmente sento e espero ela passar.
O combustível da
vida é o novo. E do coração é a emoção. A mesmice nos enche de razões e elas
quase sempre são desnecessárias. De repente, quase que num piscar de olhos eu
enxergo o novo dentro do velho e os dois se confundem. Filmes da minha vida
passam como num flashback e eu tento esfarelar essa memória. Tento esquecer um
passado sem volta e me colocar diante da vida como um passageiro fiel de sua
efemeridade.
Que tudo passa.
Que tudo sempre vai passar. Que certezas são perigosas, mas em algum momento
elas fazem o seu papel de pacificadoras. O que se faz quando se perde todas as
certezas? Ora, o que fiz foi jogar meu corpo ao vento. Senti a música e comecei
a dançar. Porque a vida ainda é o que tenho de mais valioso. Porque viver é
virar o contraditório de vez em quando só pra ter a liberdade de mudar. E eu mudo
quanto for necessário.