terça-feira, 1 de maio de 2012

Do pulsar das mudanças.




Daqueles dias em que o silêncio é a nossa melhor companhia. Daqueles dias em que você quer que todo o resto se exploda. Daqueles dias em que se olha pros lados e não se vê nada além de paredes brancas e móveis envelhecidos. Eu sento na minha cama, escuto o pulsar do coração e sinto como se fosse o algo mais verdadeiro do mundo. É a minha certeza; é o meu órgão vital bombeando vida para cada célula e eu não tenho mais nada que isso.
O sol que já nasceu anuncia um novo dia, mas dentro de mim o principio vital é outro. Nada nasceu. É apenas a continuação da mudança. E continuamente as coisas mudam. Pessoas entram e saem de nossas vidas a todo o momento, e vejo isso como uma necessidade que temos de desapegar do velho e nos agarrar ao novo.
E é sem nostalgia que vejo esse sol. Ao contrário de nostalgia, o que sinto é o sangue correr mais forte. É o coração acelerado. É o ritmo da mudança debaixo da minha pele e em cada veia. Há o medo das más mudanças, mas há o entusiasmo de vivê-las profundamente e a todo vapor. Porque todos os dias a vida começa bem aqui dentro e cabe a eu decidir o que será feito dela. Se eu fico, permaneço, vou, corro, tenho pressa ou simplesmente sento e espero ela passar.
O combustível da vida é o novo. E do coração é a emoção. A mesmice nos enche de razões e elas quase sempre são desnecessárias. De repente, quase que num piscar de olhos eu enxergo o novo dentro do velho e os dois se confundem. Filmes da minha vida passam como num flashback e eu tento esfarelar essa memória. Tento esquecer um passado sem volta e me colocar diante da vida como um passageiro fiel de sua efemeridade.
Que tudo passa. Que tudo sempre vai passar. Que certezas são perigosas, mas em algum momento elas fazem o seu papel de pacificadoras. O que se faz quando se perde todas as certezas? Ora, o que fiz foi jogar meu corpo ao vento. Senti a música e comecei a dançar. Porque a vida ainda é o que tenho de mais valioso. Porque viver é virar o contraditório de vez em quando só pra ter a liberdade de mudar. E eu mudo quanto for necessário.

domingo, 15 de abril de 2012

Cúpula de ferro





Era mais uma manhã daquelas em que na noite anterior eu não havia dormido nada. Chegara à conclusão de minha autoanálise. Cheguei a tantas conclusões que não cabem aqui. Cheguei à metade de abril e em quase tudo esse ano mudou e tem me mudado. Não serei ridiculamente criteriosa a ponto de dizer no que esse ano difere do outro. Apenas direi que tenho percebido mudanças em como ver o mundo e em como ver as diferenças.
Afastei-me um pouco do catolicismo, quase cheguei a crer que Deus era uma ilusão. Bobagem, bobagem, bobagem. Eu só fui ao fundo do poço, perdi a fé, experimentei da lama e pude ver que sou bem mais e melhor.
Das pessoas, estou tentando ver só o lado bom. Só o lado óbvio e pertinente que todas elas me mostram. Ou acham que mostram, porque sempre fica algo nas entrelinhas delas mesmas. Mas bem, esqueceremos as entrelinhas. Nada de ir ao fundo de alma alguma. Nada de querer entender os porquês. É muita perda de tempo decifrar olhares dentro de multidões. Bem melhor é esperar que os olhares aproximem-se e te falem o que eles achem necessário dizer.
Estou parada. Digo parada, porque não quero ir além da linha que separa a intimidade de cada um. E estou criando pouco a pouco um muro em torno da minha. Não tem por que ninguém saber das minhas crises, medos, abstinências e coragens. Apenas entro no banheiro, me olho no espelho e digo para qualquer dor que venha a aparecer: você é pouco pra mim.
Mantenho-me presa a essa atmosfera de autocontrole. Não deixa de ser uma prisão quando mantemos o controle. Mas quer saber? É bom ter visto tantos filmes a ponto de saber muito bem do que se trata o próximo. E eu sei muito bem o que virá depois. Virá o medo de perder toda essa segurança e de-sa-bar. Devo construir uma cúpula mais forte da próxima vez, quem sabe de ferro. Agora compreendo porque devemos ser mais criteriosos quando o assunto for: autoconhecimento.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quando a dor se torna parte.


E agora, eu já não caibo mais dentro de mim mesma. Essa solidão, esse medo e esse desespero me fazem ficar mil vezes mais densa. Como conter as lágrimas se elas são quem tem sido a válvula de escape?  Meu corpo todo dói e os meus ombros já sentem o peso do cansaço. Tudo isso só não consegue ser maior que a própria dor. Tudo isso só não consegue ser mais pesado do que o meu coração.

Olho-me rapidamente no espelho. Digo rapidamente porque já não consigo mais encarar meus próprios olhos; pretos e fundos revelam as noites mal dormidas. Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que sentimos. E essa "coisa" não tem cura porque a coloquei no centro da minha existência. E pra ser sincera, eu não esperava menos que isso. Dores, cada um tem as suas. Não podemos julgar a dor alheia, mas nosso egoísmo sempre nos faz crer que a nossa é maior.
No papel em branco vejo o rímel escorrendo junto com as lágrimas. O lápis está vazado de água. O que fazer? Algum lugar deve me caber. Alguém deveria ao menos entender toda essa dor. Como é azeda, como é pobre e como se tornou intrínseca essa dor. Ela é latente e esperta. Finge que vai embora quando rapidamente me iludo com miolos de felicidades. Bobagem! Ela sempre volta e me corta por inteira. Ninguém nunca sabe quando ela está ao meu redor, porque ela apenas se apresenta quando estou só.
Qualquer coisa por maior que seja ainda é menor que essa excruciante desolação. Ninguém além de quem a causou pode curá-la. Agora; estou irremediavelmente entregue para ela. Jogo meu corpo no chão frio, encho o peito de ar (ainda que não o ache), tomo mais uma amitriptilina e tento dormir. Continuo tendo milhões de motivos pra virar a página, mas nenhum que me faça ter coragem.

sábado, 7 de abril de 2012

A menina do laço de fita.

Era uma menina como outra qualquer. Exceto pela capacidade de sonhar.  Desde pequena ensaiava no espelho maneiras de impressionar. Ficava no jogo de caras e bocas e se achava não a mais bela, mas a de olhar mais profundo. Possuía artimanhas desde pequena e jogava com os meninos feito um moleque. Não gostava de fitas rosa no cabelo, ela tinha uma amarela. Amigas? Pouquíssimas. Ela se acompanhava com os meninos porque eles sim sabiam brincar feito criança. Corriam sem medo de despentear. E ela gostava dessa liberdade. Desse cabelo solto, desse laço de fita desmanchando ao vento.
Esqueceu-se até que poderia crescer. Esqueceu-se de tal maneira que cresceu sem perceber. Já não corria pelas ruas para brincar de esconde-esconde. Mas corria com pressa de não chegar atrasada no colégio. Ela aos poucos notou que os livros tomaram o lugar dos brinquedos na estante. Mas mesmo assim, continuou a jogar seu cabelo ao vento. De certo, retirou a fita. Colocou um broche. E continuou a correr. Ela já não corria pra não chegar atrasada, corria apenas para chegar. O tempo foi adormecendo os sonhos da menina. Mas ela de peito erguido continuou... Agora ela já não corre. Caminha. Caminha com passos um pouco ligeiros. Distribui sua beleza cercada de inocência. Ela pensa que está no caminho certo. Mas pergunta-se para a menina: Onde estão seus amigos? Ela responde que possui novos amigos agora. Não são os mesmos, nem possuem o mesmo brilho, mas são amigos.
Agora, a menina apressa o passo. Ela quer ganhar espaço no mercado. Ela acredita em si e produz. Ela esquece que um dia pode se apaixonar. E de tanto esquecer, se apaixona sem perceber. Agora ela para, olha ao redor, suspira e vê que seu sonho encolheu. O seu sonho agora cabe todinho em outro olhar. Seria como conto de fadas, se esse outro olhar notasse o dela. Mas não notou. Por isso a menina (que já não é mais menina) recolhe os pedaços de ilusão. Notou que o queixo e joelhos ralados não doíam tanto perto do que seu coração sentia.
Mas continuou a andar. A moça que agora caminha não é mais como era a menina. Ela aprendeu que não precisa ter tanta pressa.  Ela apenas vai... Os cabelos ainda voam. Cabelos soltos. Parece ser livre, essa moça. Parece que é dona de si. Mas ela ainda não sabe que não adianta se esconder. E sonha.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quem sabe até o próximo cais.

Desde muito cedo estamos juntos nesse barco. Será que erramos o horário? Será que era para nos encontrarmos aqui e naquela hora? E se eu tivesse esperado o próximo barco, seria a mesma? E você, seria o mesmo?
Tenho a impressão de que tínhamos que cruzar esse oceano juntos e de mãos dadas. Mas agora que chegamos à terra firme, do outro lado, somos obrigados a soltarmos as mãos e seguirmos sem o outro. Cumprimos o combinado e o estabelecido pelo destino. O que teria sido de nós se juntos não tivéssemos rido e brigado tanto... Aprendemos muito nesse percurso. Tanto que posso apostar que não somos mais os mesmos. Aprendemos tanto que já não cabemos dentro de nós. E por isso, temos que soltar as mãos.
Outro percurso? Outro encontro? Quem sabe... A vida está aí para mostrar sempre o contrário. Para reinventar sempre que acreditamos estarmos firmes. Há tanto sol ainda aqui, há tanto brilho nesse dia. Enfrentamos tantas tempestades, remendamos esse barco milhares de vezes, assopramos a vela quando o vento queria ir à direção contrária. Remar. Remamos tanto, desejamos tanto, que chegamos ao final.
Liberdade. Sem barco, sem amarras, sem ajuda um do outro. Livres estamos. Prontos? Não sei. Que seja forte essa vontade de ir além. Olhar você é enxergar todo o percurso já feito. É entender que nunca estivemos a sós, mas que agora é preciso partir. Por muito tempo o seu corpo foi meu albergue. O seu colo foi travesseiro. A sua mão foi alavanque.
Já finquei o nosso barco. Que ele fique aqui na costa sempre virado em direção ao horizonte. Nele estão tantas lembranças, tanto grito, tanto choro e tanto sorriso que é preciso mais do que vontade pra não querer leva-lo também.  Espero que encontre um barco tão seguro como o nosso. Era pequeno, mas era nosso. Nós cabíamos nele como se fosse feito pra nós.
É hora de navegar sem medo algum. É hora de cada um procurar seu próprio barco. O que será feito desse (o nosso barco) alguém decide quando encontra-lo. A viagem foi longa. Estou exausta. Amanhã preciso viajar. Vou dormir. Quem sabe até o próximo cais. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Nota sobre março.

Quantas vezes você acredita ter ou possuir aquilo que jamais foi dono? Quantas vezes você se engana e pensa que possui um lugar importante na vida do outro, quando na verdade está a substituir alguém ou retirar um pouco do tédio?  A sensação de descobrir pouco a pouco que a construção de um sentimento (seja ele qual for) não passou de uma ilusão dói muito mais do que se entregar à certeza dele e mais tarde se decepcionar. Pois quando no segundo caso, você pelo menos viveu aquilo e foi verdade enquanto existiu. Sempre pensei que as pessoas (pelo menos as que estiveram sempre comigo durante muito tempo) pudessem ser sinceras e fossem capazes de olhar no meu olho para falar a verdade. Que ilusão tola!
Mas agora, recolho-me para dentro de mim. Já limpei toda a bagunça que esses anos cheios de ilusões me trouxeram. E estou pronta pra recomeçar. Não é um ressurgir das cinzas, porque para existir cinzas supõe-se fogo e ao contrário disso; o que pude provar esse tempo todo foi unicamente gelo. Mas está tudo bem agora. Ou pelo menos creio que esteja. Se amanhã eu vier a lamentar, que isso faça parte de um processo de limpeza e restauração. É como quando necessitamos limpar a casa, mas para isso precisamos jogar fora papéis velhos, revistas passadas, livros rabiscados e canetas que falham. E ainda assim sentimos nostalgia ou quem sabe medo de desprender do que fomos por tanto tempo conseguinte. Perder certezas é realmente algo doloroso.
Pouco a pouco eu irei refazer a casa. Pouco a pouco eu colocarei coisas novas e quem sabe até esperanças. Por agora eu só tenho uma convicção: não preciso e nem quero voltar atrás. Quero ir em frente e não posso desistir dessa mudança. E veja só como estou decidida e pronta para não pestanejar. Veja só como por tanto tempo só precisei desta coragem. E ela sempre esteve aqui, mas só agora pude vê-la. Vou usá-la finalmente!

quarta-feira, 21 de março de 2012

O que sempre quis ter.

Hoje chorei lendo um poema de Clarice. Parecia que não era eu porque já o tinha lido tanto, mas nunca sentido algo parecido com o que senti. Devo ter encontrado a alma do poema. Mais do que isso, me encontrei nele. Ando tão sentimental, precisando de tanto afeto, tanto amor, e tanto carinho que ontem ao abraçar minha mãe senti uma paz que nunca tinha sentido. Talvez eu não tenha notado, mas a minha paz está bem do lado, na terceira porta deste corredor onde está meu quarto. Demorei tanto tempo pra encontrar razões e quando as achei elas se tornaram vãs. Sempre quis decretar finais dentro de mim, e quando finalmente declaro o primeiro final, sinto-me precisando de um novo inicio. Será que aprendi a me aceitar como sou? Ou vivo tentando desenhar alguém que todos querem ter?
Minha mãe de certo me aceita como sou. Ela me conhece tanto que percebe quando vou deixando de ser ou apenas começando a ser o que sempre fui. Sabe o que mais gosto de comer, minha cor preferida, meu modo de vestir, meu numero de sapato, meu grau de óculos. Ela sabe até como vai o meu nível de açúcar no sangue ou meu colesterol. Sinto isso quando ela pede pra que eu diminua os doces, ou coma menos gordura.
É um peso enorme saber que temos quem mais amamos finalmente. Dói imaginar o quanto tempo perdemos para descobrir isso. E eu desejo fielmente, que isso não aconteça com você.
Poderia ser pior se caso eu só tivesse descoberto isso depois que ela tivesse ido. Oh Deus, obrigada por essa conscientização. Não pense que fui uma filha péssima, que nunca fiz nada de bom para minha mãe. Pelo contrário, acho que fui uma filha razoável. OU medíocre, tanto faz. Não sei como definir a linha de quem sempre teve tudo o que quis, mas só com a maturidade entendeu o que realmente precisava.
E eu preciso dela. Preciso imensamente do abraço dela. Um abraço com um poder de cura. Um abraço que de tão enorme, cabe meus defeitos e qualidades. Cabe o meu pior se confundindo com o meu melhor, porque mãe nos vê com olhos mais santos. Olhos que não enxergam defeitos. Porque mãe é mãe. Preciso dizer algo além desta imensa palavra de três letras? MÃE. Soa como uma canção leve. Soa como compreensão. Soa como refúgio. E finalmente soa como o amor.
Ainda bem que Deus nos confiou à essa guardiã. Ainda bem que por um bom tempo não precisamos nos preocupar com roupa lavada, comida feita, água e luz pagas, par de meia dentro do tênis, o ponto certo do açúcar no café, o tempo do bolo no forno. Porque mãe sabe isso de cor. Mãe sabe tudo. E sabe até quando não sabe, porque pressente. Esse amor que ela tem dentro do peito a coloca em sintonia profunda com Deus.
É uma pena não ser eterna. É uma grande pena. Aliás, é uma tragédia. Mas desejo que eu possa amá-la a cada dia. Desejo entender seu papel de protetora quando abre meu guarda roupa, quando lê minhas correspondências, quando liga pro colégio, quando me acorda pro almoço em pleno domingo. Desejo um dia também sentir esse amor por alguém. Desejo ser  santa assim como uma mãe. Desejo que a minha esteja comigo todos os dias. Desejo encontra-la até quando eu não puder mais vê-la. Para você mãe, todo o meu amor. Obrigada por ter me tornado o que sou. Obrigada por entender meu grito de agonia dentro do silêncio do meu olhar. Amo-te.
21/03/2012

terça-feira, 6 de março de 2012

O que vi de mais perto do amor.

Eu te dei tudo e em troca não te cobrei nada. Eu estava disposta a ser teu calor, ser teu ar, teu verbo, teu pulsar; e ainda assim não queria nada de volta. Entreguei-me a esse amor como uma criança, joguei-me sem me conter, sem me reservar. Eu desejava ser somente tua e acordar ao teu lado todos os dias. Sentir teu cheiro e desejar saúde sempre que você espirrasse. Queria ser feliz.  Então foi aí onde percebi que só seria feliz me doando dessa forma para você. Não impus limites, não me guardei pro dia seguinte. Eu deixaria tudo por você. E creio que deixei muito por você.
Tantas vezes desejei você ao meu lado. Segurar tua mão, enxugar teu choro, apertar tua solidão. E tu, o que me destes além de ingratidão?
Mesmo sem esperar nada de você, nunca pude imaginar que serias tão egoísta. Eu tive que recolher apressadamente meu amor como quem recolhe as provas de um crime ouvindo a sirene da policia. E também com o mesmo desespero. Veja só: tudo o que eu tinha e conhecia de amor, te dei. Tu não hesitaste em me ferir. E eu também não hesitei em te perdoar.
Acho que ainda lhe amo. Não com tanta força, com tanta paixão, com tanto desejo. Mas amo com aquele sopro quente quando escuto teu nome. Ainda me desconcerto toda quando me perguntam de ti. Ora revolto-me por não ter te esquecido por completo. Ora me orgulho de um dia ter conhecido o amor. Você foi o que vi de mais perto do amor. 
Amei-lhe da maneira mais simples e também profunda. Foi como ver o mar e não poder mergulhar. Foi como ver o navio partir e de quebra perder o cais. Foi como ver o arco-íris e não poder alcançar o pote de ouro. Mas não me arrependo. Amei e amaria outra vez. Mas só amaria você. Porque de tudo o que já tive apreço, só consegui te amar porque nunca pude te ter. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Dolorosamente doído.

Sabe amigo, os dias por aqui não estão sendo nada fáceis. Além desses rompimentos todos diários, desse coração tão apertado, desse choro contido, eu tenho investido muito em quem não merece nada. Eu sei que não devemos pensar em desistir, que não devemos entregar as contas. Mas está tudo tão difícil, que tenho medo de não suportar tudo o que vem acontecendo. Tenho medo de não ir mais longe por ter sido tão prejudicada no passado. Penso que existem coisas muito além de tudo isso, mas outras vezes penso que tudo o que tenho já me foi abortado. Sinto um enorme medo de não ser feliz. De não sentir-me completa, abastada. Existe um vazio aqui, uma saudade, uma falta.
Eu poderia camuflar essa dor com sorrisos abertos no rosto, mas sei que é inútil. Portanto dispo essa dor como quem tira a roupa de uma pessoa que se deseja há muito tempo. Quero me cortar, sangrar e se não for o bastante; quero também senti-la bem aqui, estancada no meu peito como se fosse um punhal. Dói. Dói muito. Não tenho forças pra sorrir ou mentir que está tudo bem. Quero dizer que há muito tempo o meu riso se perdeu e as minhas esperanças decidiram se afastar de mim. Parece ser dramático demais, mas é a pura verdade. Parece uma cólica no coração, uma vontade de vomitar toda essa tristeza, de encontrar alguém que compreenda toda essa dor, toda essa saudade de mim. Faz muito tempo que não me reconheço.
Não vejo mais no espelho de agora o meu eu de antes. Uma penumbra separa a minha imagem verdadeira de mim mesma. Não tem saída. Não tem solução. Vou tomar todos os remédios possíveis para sentir um pouco de sono; pois enquanto durmo esqueço essa dor. Isto é, quando ela não decide vir em sonho me atormentar. Mas irei ficar bem. Irei voltar inteira e ainda mais forte. Deixe estar. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Castelos de areia.



Existem coisas que só se sentem quando se está de frente pro mar. De repente, me veio uma lembrança boba de quando estivemos aqui no último verão. Um dia falaram-me em esperanças. Que elas estavam dentro da gente e bastava apenas acioná-las quando necessário. Se existir algo que aciona todas as minhas esperanças, esse algo é estar diante o mar. Sinto-me tão leve, tão feliz, tão perto de Deus quando olho esse horizonte. Lembro-me da infância toda presa nesse cartão postal. Por onde você anda agora? Tem o mesmo rosto, o mesmo coração, o mesmo ar de sempre?
Meu coração encontrou esperanças bem aqui, de frente pro mar. E ironicamente, eu vejo você também diante dele. As conchas...  Os castelos de areia sempre tão fáceis de serem levados pelo vento. Acho que somos assim: Castelos de areia. O vento desmancha e leva; Dispersa. Ficam tantos grãos no ar quando o vento bate. E com a gente, ficam as sensações; os sentimentos. Quem sabe um dia esbarremos nelas de novo. Deve haver algum nexo entre o lugar que resolvemos construir nossos castelos de areia e decidimos enterrar nossas conchas. Parece bobagem, mas quando o assunto é castelo de areia continuamos crianças. Digo: Sem saber onde construí-los bem. O destino é quem tece pra gente tudo isso.
Continuo boba. Continuo encontrando esperanças diante do mar. Acredito que um dia reconstruirei meu castelo e desenterrarei minhas conchas. Mas, entendo que o mar jamais será o mesmo. E eu também não serei a mesma quando voltar. O vento assim como Deus sabe bem o momento de levar esses castelos embora. E aprender a deixar as conchas para trás é sinal de que na frente –quem sabe- encontraremos algo mais grandioso e verdadeiro.
Agora eu apenas sinto a brisa leve. Tento não chorar. Vou apenas perdendo meu olhar nesse azul tão imenso. Serei feliz, tenho certeza. Sussurro sutilmente aqui dentro: serei feliz. E continuo vendo mais ventos levando castelos... 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Revoltei-me!

                                                               Revoltei-me! 
E se eu fosse você também se revoltaria. Se revoltar com a vida que você leva, com a maneira melancólica que você enfrenta os fatos faz com que você enxergue que a vida é muito mais do que isso e você pode ser feliz sem aquilo que julga tão necessário. Sem dramas por favor. Pelo menos agora, nessa fase, nessa época, eu não serei dramática. Estou facilitando tudo quando minimizo os problemas e encaro de frente as soluções. Muitas vezes é preciso perder um pedaço para que se possa dar valor ao restante que ficou em você. Será assim daqui pra frente. Sem dramas, sem expressões tais como: "eu acho que vou morrer". Estou trocando essa dramatização toda por aquela sensação que diz:. Foi ótimo, obrigada. Mas por você, eu não posso mais fazer o mesmo. Beijos, adeus.
Quero descobrir um novo horizonte, e desta vez sem ameaças. Foi bom enquanto durou.

Primeiros dias sem você


Tento dormir. Quando finalmente deito-me e fechos os olhos, a tua ausência me vem como um peso e eu acordo subitamente com uma enorme falta de ar. Me falta tudo agora. Eu não estou querendo dizer que você é a razão da minha vida, mas pelo menos com você eu conseguia dormir mais tranquila. É muito difícil sem você. Me davas coragem, me davas cor, me dava brilho no olhar. E hoje, o que eu tenho não é nada mais que um quadro velho pendurado na parede, e quando tenho coragem de olhá-lo vejo nossa imagem preto e branco parada no tempo, e principalmente congelada na minha mente. Ainda tenho lágrimas, e isso até me conforta. Será amargo quando elas faltarem e eu só sentir um nó na garganta. Volta pra cá. Eu não te pedi na carta, mas agora, o desespero é tanto que te peço muito, VOLTA!
Os meu sorriso não é mais o mesmo. Você faz uma falta daquelas que traz desespero. Daquelas que tira o sono. Daquelas que você pede pra não lembrar antes de dormir, porque caso aconteça, é noite em claro na certa. Perdemos tanto tempo não fazendo, nem dizendo o que sentíamos pelo outro que hoje estar longe de você não dói tanto quanto não ter tido a oportunidadede ter lhe falado que amor de verdade, eu só senti com você.
Aquela frieza na barriga e aquela ansiedade esperando o telefone tocar, eu só senti com você. Posso me sentir feliz por ter descoberto isso, ou posso ficar triste por não ter materializado tudo isso.
Essa é só mais umas das imensas noites que passei e vou passar em claro pensando em você. Em como você está, como foi o seu dia. Cuide-se porque você é aquilo que encontrei de mais precioso. Você e essa sua ternura, que de tão terna me trazia calma.
Amo-lhe, mas odeio essa falta que você faz. Quero você por perto de novo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Para começar Janeiro.

Já imaginou se existe algo mais doloroso do que nadar sem ver terra alguma?
 Pior que existe.
 Aquela sensação de que a tempestade já tivera acalmado você vai lentamente recolhendo os destroços do navio e de repente, surge uma nova tempestade e te afasta do solo firme mais uma vez.
Você até pensou que tivesse finalmente inteira mais uma vez, mas percebeu que ainda se há muito por remendar e consertar. Dói muito. Dói mais do que nunca ter visto horizonte algum. Esperanças despedaçadas doem mais do que não ter tido jamais esperanças. É como se a ferida agora, além de aberta mais uma vez, estivesse inflamada, estivesse corroendo o pouco de carne que ainda havia sã.
Meu Deus, quantas vezes eu tive que recomeçar, e quantas vezes eu pensei que já não haveria mais dor e eu poderia ser feliz?!! Parece que me persegue a sina de ser sempre triste, de sempre ter algo faltando aqui dentro; e isso é de longe a coisa mais melancólica que conheço.
De perto então, nem se fala.
Mais uma vez me ponho a escrever. E desta vez quero me rasgar por inteira. Sinto um enorme desespero, uma falta de ar como se o mundo estivesse se fechando em cima de mim e eu não tivesse lugar algum pra correr ou ficar em paz. Não sinto mais necessidade de ser feliz. Essa solidão, essa ausência de tudo e todos me fez ficar sóbria, sem luz alguma. Dói tanto e eu não posso fazer nada para estancar esse sangramento.
Ou melhor; ninguém pode.
Já não escrevo cartas pra ninguém, não coloco nele, nem em pessoa alguma a responsabilidade por este sentimento. Isso já está dentro de mim, eu já não consigo ver alegria alguma. É como se fosse um braço amputado, e diria que é o direito; Aquele que mais me é útil. Uma sensação de nada, de vazio, de busca pelo não sabe o quê, é o que me deixa ainda mais no fundo do poço.
Mas agora, e não em outro instante me sinto aliviada. Acho que colocar em papel aquilo que gostaria de gritar para o mundo inteiro, me faz sentir um pouco melhor e menos motivada a morrer. Espero que seja uma boa noite. Que eu durma pelo menos hoje depois de tanta insônia que me persegue. Nem desejo acordar melhor. Espero apenas acordar com vontade de viver.

domingo, 21 de agosto de 2011

Carta ao meu ex-amor.


Londres, 25 de Janeiro de 2010.
Ao meu ex amor, mas grande colaborador de felicidade aos meus dias.

Estive por muito tempo, pensando numa maneira clara e evidente de te dizer o quanto foi bom, e o quanto você me ajudou a encontrar a mim mesma, e o quanto você fez com que eu entendesse sobre mim. Quis te dizer também que o pouco que estivemos juntos foi imensamente maior que todas as outras paixões que um dia avassalaram meu coração, que você marcou e ainda hoje de vez em quando me pego pensando em seus beijos. Gostaria de te pedir que não esquecesse o que vivemos, e que fizesse o possível para preservar nossas boas lembranças num lugar intocável, num lugar colorido, mas que, por favor, seja sem esperanças. Isso porque nós já tivemos nossa chance: eu de fazer você feliz e você de me completar.
E agora que essa chance acabou o que podemos fazer é lutar para que nossa história não seja só mais uma no cordel de tantas que já penduramos na janela do quarto, que ela seja a mais doce e a mais linda. Queria te pedir um favor, não deixe que o sol seque nossa história, nem que os ventos tirem a magia bonita que ela nos trouxe, pois ao poucos durante o tempo que ficamos juntos, comecei a acreditar levemente que se pode ser feliz com muito pouco, e essa tal magia não quero jamais que se perca de nós dois.
No mais, quero te dizer que foi bom, nós dois, nossos beijos, nossas conversas, nossos abraços, nossas noites na varanda, nossos pôr de sol, foi fantástico o tempo que estivemos e tivemos juntos. Me guarde como um sonho bom, que eu te guardo assim também.


Beijos, e que a vida te dê de presente um novo amor com cheirinho do mato!

domingo, 19 de junho de 2011

As consequências de sua ausência.

E agora, o meu corpo todo dói. Mas outrora ele estava em êxtase.
 Era sempre assim depois de nossos encontros na beira do lago. Mas naquele dia, não foi um encontro qualquer. Queria eu, que não fosse o último, mas vejo que o destino não mais nos aproximará. Passamos longos instantes vendo o horizonte, nos enxergando naquela limpidez da água, e nos beijávamos por longos minutos. Pudera eu imaginar que um dia eu voltaria aqui sem você? Como é diferente o verde das arvores, como é melancólico os cantos dos pássaros sem você para me fazer rir. Parece que também já não sou mais a mesma.
Já tinha parado de beber e de fumar por conta de você, mas agora o cigarro e o conhaque são os meus companheiros noite adentro. Mudei a cor do nosso quarto – corrijo - agora ele é só meu não é verdade? Eu o pintei de branco, e só irei colorir quando alguém chegar e preencher o vazio que me deixastes.
Mas que tola sou eu, quando imagino que realmente virá alguém que poderá preencher esse vazio. Leio e releio todas as nossas cartas de amor todas as madrugadas, e quando elas não são o suficiente para te trazer pelo menos em lembrança para perto de mim, eu ligo a TV e choro até com comercial de margarina. De manhã ao acordar, evito passar perto do lugar que você sentava para ler o jornal, parece tanto com você e seu suéter azul aquele lugar que eu resolvi não mudar, quem sabe um dia acordo e encontro você sentado.
Ainda freqüento aquele mesmo restaurante italiano. É tão engraçado quando o garçom me vem com duas taças e nosso vinho predileto, e me pergunta tão cordial se não terei companhia. Em resposta sorrio negativamente, mas por dentro eu desmorono. É estranho não te ter mais por aqui.  Uma vez por curiosidade eu contei os maços de cigarro que fumei numa só noite, e me pareceu passar dos dez. Nem lembro ao certo, eu estava bêbada e louca.
Quando você se foi, imaginei que iria mudar meus hábitos, que poderia ser livre, voltaria a caminhar, a malhar, iria trabalhar em paz sem me preocupar onde e com quem você estava. Isso é bobagem porque em nada mudou, eu continuo a imaginar onde e com quem você está. Só que desta vez, sei que estás longe.
Nos intervalos do trabalho eu retiro da bolsa o celular, digito seu número, mas me sinto incapaz de ligar. Sinto-me pequena, talvez pelo orgulho, pelo medo de como será seu retorno, não sei te explicar, mas eu gostaria, e muito que você voltasse.
Sabe Deus o que sua ausência me causou, o quanto eu tenho gastado em analistas, psicólogos, bares, boates e etc. Para compensar sua falta. Um absurdo engano meu, no fundo de mim sei que nada te trará de volta, e muito menos te substituirá.