Era uma menina como outra qualquer. Exceto pela capacidade de sonhar. Desde pequena ensaiava no espelho maneiras de impressionar. Ficava no jogo de caras e bocas e se achava não a mais bela, mas a de olhar mais profundo. Possuía artimanhas desde pequena e jogava com os meninos feito um moleque. Não gostava de fitas rosa no cabelo, ela tinha uma amarela. Amigas? Pouquíssimas. Ela se acompanhava com os meninos porque eles sim sabiam brincar feito criança. Corriam sem medo de despentear. E ela gostava dessa liberdade. Desse cabelo solto, desse laço de fita desmanchando ao vento.
Esqueceu-se até que poderia crescer. Esqueceu-se de tal maneira que cresceu sem perceber. Já não corria pelas ruas para brincar de esconde-esconde. Mas corria com pressa de não chegar atrasada no colégio. Ela aos poucos notou que os livros tomaram o lugar dos brinquedos na estante. Mas mesmo assim, continuou a jogar seu cabelo ao vento. De certo, retirou a fita. Colocou um broche. E continuou a correr. Ela já não corria pra não chegar atrasada, corria apenas para chegar. O tempo foi adormecendo os sonhos da menina. Mas ela de peito erguido continuou... Agora ela já não corre. Caminha. Caminha com passos um pouco ligeiros. Distribui sua beleza cercada de inocência. Ela pensa que está no caminho certo. Mas pergunta-se para a menina: Onde estão seus amigos? Ela responde que possui novos amigos agora. Não são os mesmos, nem possuem o mesmo brilho, mas são amigos.
Agora, a menina apressa o passo. Ela quer ganhar espaço no mercado. Ela acredita em si e produz. Ela esquece que um dia pode se apaixonar. E de tanto esquecer, se apaixona sem perceber. Agora ela para, olha ao redor, suspira e vê que seu sonho encolheu. O seu sonho agora cabe todinho em outro olhar. Seria como conto de fadas, se esse outro olhar notasse o dela. Mas não notou. Por isso a menina (que já não é mais menina) recolhe os pedaços de ilusão. Notou que o queixo e joelhos ralados não doíam tanto perto do que seu coração sentia.
Mas continuou a andar. A moça que agora caminha não é mais como era a menina. Ela aprendeu que não precisa ter tanta pressa. Ela apenas vai... Os cabelos ainda voam. Cabelos soltos. Parece ser livre, essa moça. Parece que é dona de si. Mas ela ainda não sabe que não adianta se esconder. E sonha.
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