sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quem sabe até o próximo cais.

Desde muito cedo estamos juntos nesse barco. Será que erramos o horário? Será que era para nos encontrarmos aqui e naquela hora? E se eu tivesse esperado o próximo barco, seria a mesma? E você, seria o mesmo?
Tenho a impressão de que tínhamos que cruzar esse oceano juntos e de mãos dadas. Mas agora que chegamos à terra firme, do outro lado, somos obrigados a soltarmos as mãos e seguirmos sem o outro. Cumprimos o combinado e o estabelecido pelo destino. O que teria sido de nós se juntos não tivéssemos rido e brigado tanto... Aprendemos muito nesse percurso. Tanto que posso apostar que não somos mais os mesmos. Aprendemos tanto que já não cabemos dentro de nós. E por isso, temos que soltar as mãos.
Outro percurso? Outro encontro? Quem sabe... A vida está aí para mostrar sempre o contrário. Para reinventar sempre que acreditamos estarmos firmes. Há tanto sol ainda aqui, há tanto brilho nesse dia. Enfrentamos tantas tempestades, remendamos esse barco milhares de vezes, assopramos a vela quando o vento queria ir à direção contrária. Remar. Remamos tanto, desejamos tanto, que chegamos ao final.
Liberdade. Sem barco, sem amarras, sem ajuda um do outro. Livres estamos. Prontos? Não sei. Que seja forte essa vontade de ir além. Olhar você é enxergar todo o percurso já feito. É entender que nunca estivemos a sós, mas que agora é preciso partir. Por muito tempo o seu corpo foi meu albergue. O seu colo foi travesseiro. A sua mão foi alavanque.
Já finquei o nosso barco. Que ele fique aqui na costa sempre virado em direção ao horizonte. Nele estão tantas lembranças, tanto grito, tanto choro e tanto sorriso que é preciso mais do que vontade pra não querer leva-lo também.  Espero que encontre um barco tão seguro como o nosso. Era pequeno, mas era nosso. Nós cabíamos nele como se fosse feito pra nós.
É hora de navegar sem medo algum. É hora de cada um procurar seu próprio barco. O que será feito desse (o nosso barco) alguém decide quando encontra-lo. A viagem foi longa. Estou exausta. Amanhã preciso viajar. Vou dormir. Quem sabe até o próximo cais. 

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